quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Prémio de Consolação Para Grande Exibição

FC Porto foi relegado para a Liga Europa

James foi o melhor em campo para a equipa portuguesa

FC Porto 0-0 Zenit. Se a equipa se tivesse exibido ao nível do que nos tem vindo (infelizmente) a habituar, este empate não teria grande impacto nos corações dilacerados de todos os portistas. Porém, o magríssimo resultado obtido foi um balde de água fria após a exibição grandiosa que os nossos rapazes rubricaram no Dragão. A Liga Europa, essa, é o cinzento prémio de consolação para a melhor exibição da época, em que não fomos mais longe devido ao problema diagnosticado logo no início da época: a carência de um matador.

Foi assim que aconteceu
Foi de uma dor excruciante ver os nossos miúdos deitados sobre a relva, destroçados, chorando o facto de não nos termos apurado para a Liga dos Campeões. Ainda mais horrível saber que a única coisa que faltou foi um golo, um mísero golo, plenamente justificado e merecido pelo modo como a equipa jogou. Nos últimos dois jogos, houve esforço e vontade; neste, essas duas virtudes somaram-se à inspiração e ao jogo a que os dragões nos habituaram no ano passado: inspirado, intrincado, atacante, fluído, belo.
Foi espectacular ver um atentíssimo Helton a afastar as (poucas) bolas que chegaram perto da sua área, acertadíssimo Otamendi a voltar aos tempos de glória, um inconformado Álvaro a correr de forma endiabrada, um aguerrido Maicon a calar os críticos, um metódico Fernando a recuperar todas, um cerebral Moutinho a assinar um belíssimo jogo, um desinspirado Defour a lutar por inspiração, um outrora desastrado Djalma a exibir-se em grande nível, um inatacável (anteriormente nabiça ambulante) Kléber a tabelar com os colegas, um veloz Varela a fazer pela vida, um criativo Belluschi a ajudar a equipa e um maravilhoso James a evidenciar-se na sua melhor posição, a 10, fazendo a cabeça em água aos adversários. Até o normalmente nabíssimo, pobríssimo e foleiríssimo Rolando mostrou que pode continuar na equipa!

O elo mais fraco
Esperem, falta um nome. Ah, pois. O "Incrível". Aquele que, na noite em que mais precisávamos, não apareceu. Ou melhor: apareceu demasiado. Quando a equipa mais precisava do fabuloso Hulk dos últimos encontros, o super-herói decidiu alhear-se do espírito colectivo que imperava no Templo do Dragão e reclamar a bola só para si, insistindo em fintas, dribles e remates disparatados. A equipa bem podia ser Hulk mais onze, se ele se apercebesse de que está incluído nisso mesmo: numa equipa, e passasse a bola aos outros, sem tentar fazer tudo sozinho. Exemplo: já bem perto do fim, quando o Porto procurava desesperadamente um golo, Hulk recebe a bola na ala esquerda, envereda por meia dúzia de fintas e, com vários colegas soltos na área e em boa posição para receber e rematar a bola para dentro das redes, o Verdocas faz o impensável: um tiro estupidamente absurdo sem ângulo absolutamente nenhum, que foi parar, como não podia deixar de ser, às nuvens. Estupor...

Peso pesado
Mas a chave deste jogo não foi a falta de um avançado de jeito ou a individualidade burra que nem uma  porta de Hulk. Não: a chave deste jogo foi precisamente o guarda-redes adversário, um tipozinho irritante de nome Malafeev. Peço desculpa pelos insultos, não são contra o homem, pois tenho-lhe toda a consideração, respeito e admiração. Os insultos são contra a grandiosa, estupenda, maravilhosa, magistral actuação do rapaz entre os postes e fora deles. Foi a noite da vida dele, sem dúvida. A bola queria, desesperava por entrar, mas lá aparecia o gigante russo a dar-lhe uma desfeita com uma patada. Mãos, braços, barriga, pés, tudo servia para amargurar os corações azuis-e-brancos que assistiam ao jogo em agudo sofrimento. Uma vénia ao nosso maior inimigo da noite. Parabéns e que tudo te corra bem na Champions. Mas esse lugar devia ser nosso...

Casa dos Segredos
Devo dizer que Vítor Pereira me mereceu ontem muito respeito. Armou a equipa da melhor forma, potenciando ao máximo um pouco talentoso Djalma (que arrumou definitivamente Varela com uma grande primeira parte), substituindo da melhor forma um lesionado Defour e percebendo o mal da equipa no primeiro tempo.
Hulk não é ponta-de-lança. Com equipas que jogam a la italiana, como este triste Zenit, que se pôs todinho à defesa, o o Incrível simplesmente não aparece. E depois, talvez deitado abaixo pela péssima exibição ao meio, repetiu a dose nas alas. Inteligentemente, VP compreendeu que era necessário um ponta-de-lança na verdadeira concepção da palavra. Assim, tirou Defour, lesionado, e meteu Kléber, empurrando Hulk para a ala e atrasando James para as costas do ponta brasileiro. Djalma, que perdera fulgor no segundo tempo, foi substituído por Varela, que entrou com ganas, e tudo se compôs para uma grande segunda metade.
Ver James no centro foi para mim um prazer enorme. Sempre disse que ele era 10 e não extremo e ontem provou isso mesmo. Com todo o respeito ao Belluschi, um jogador que, por sinal, me agrada bastante, espero que esta lesão de Defour dê espaço ao miúdo e não ao argentino. Porque um Porto com James como médio-criativo é um Porto mais contundente, ofensivo, perigoso, mágico. É, no fundo, um Porto muito mais à Porto. A posse de bola torna-se mais empolgante, cada passe mais imprevisível, cada finta mais deliciosa de se ver. Por favor, Vítor Pereira, desloca o James Bond para o meio, pois é ali que ele se torna tremendo jogador que sabemos ser. Desde o momento em que foi colocado ao centro, nas costas de Kléber, o colombiano foi um enigma absolutamente indecifrável e irresolúvel para a defensiva russa. Só faltou o golo...

Quem quer ser milionário
No fim de tudo, todos chegamos à conclusão de que o apuramento não nos fugiu neste jogo, mas sim no da Rússia (com o mijão em grande plano) e nas duas partidas contra o APOEL, em que não soubemos ser mais humildes e ferozes, olhar os cipriotas como se fossem um Real Madrid ou um Barcelona, porque é isso que se deve fazer sempre, seja com um dos dois colossos espanhóis, com o APOEL ou com a Juventude de Évora. Todos os jogos são para ganhar e dar o melhor dos melhores. Sem conversas.
Outra das conclusões, e também por demais evidente, é a falta de um ponta-de-lança digno desse nome. Não quero entrar em repetições ou fazer os corações portistas chorar de saudades, mas... o que nos falta é Falcao. Estava ontem a ver o jogo e a pensar: "Se cá estivesse cá o Falcao, não tinham levado um, tinham levado quatro ou cinco!"; e punha-me a imaginar que era ele a tabelar com James e Moutinho e que era ele a rematar aquelas bolas todas - e que era golo...
No final, feitas as contas, o Zenit quis mais ser milionário do que toda a nossa equipa junta, pois eles deram o litro não só neste jogo, como em todos os outros. Foi isso, sem qualquer sombra de dúvida, que os fez garantir o apuramento que devia ter sido nosso. O demérito foi anterior a este jogo e o mérito que com esta belíssima exibição recuperámos não foi suficiente para encobrir aquela mancha enorme no nosso passado mais recente. Que continuem a jogar assim, tão maravilhosamente bem, daqui para a frente...
Apesar de tudo, digo pela primeira vez esta época com toda a convicção: tenho orgulho nestes rapazes!

O Porto Um a Um
Helton (0) - quase sem trabalho; nota para aquele corte artístico absolutamente decisivo; atentíssimo.
Álvaro (+1) - o bom velho Palito, sempre a correr, um quebra-cabeças diabólico para os adversários.
Rolando (+1) - exibição personalizada e sem mácula, a afastar o perigo da baliza portista.
Otamendi (+1) - acrobático e agressivo como sempre, foi tão bom ou melhor que o companheiro.
Maicon (+2) - calou os críticos: impecável a defender e dinâmico a atacar; ganhou o lugar!
Fernando (+1) - limpou tudo e mais alguma coisa, que mais ninguém critique esta vassoura de ouro.
Moutinho (+2) - jogo espectacular do anão, cerebral, eléctrico e genial com a bola; um GIGANTE!
Defour (0) - estava a fazer uma exibição algo apagada, mas esforçada, até sair lesionado.
Djalma (+1) - primeiro tempo endiabrado, quase marcava; saiu esgotado após grande exibição.
Hulk (-2) - se nos últimos jogos foi o melhor, neste foi claramente o pior. Horrível.
Kléber (0) - esforçou-se e a sua entrada galvanizou a equipa, mas faltou (e falta) "Falcaonidade".
Varela (0) - já perdeu o lugar, mas continuou a correr e a tentar ajudar; inconsequente.
Belluschi (0) - trouxe maior criatividade, mas o desespero já era tanto, que não fez qualquer diferença.

Jogador à Porto
James (+3) - A primeira parte foi boa, mas não se compara à segunda. É ao meio que James poderá tornar-se um dos melhores jogadores do Mundo dentro de dois/três anos. Naquela posição, o pequeno prodígio traz criatividade, imprevisibilidade, juventude e diabrura à equipa. Com ele a 10, o Porto tornou-se verdadeiramente perigoso e brilhante, com aquela dose de genialidade que falta a Defour e que El Bandido transporta às carradas. A defesa do Zenit nunca descortinou o mistério James e sofreu muito por isso, tendo sido salva pelo gigantesco Malafeev, o Homem do Jogo. Só faltou o golo - ou ter Falcao à frente.

Malafeev foi o Homem do Jogo

Hulk foi o destaque negativo do lado portista:
foi demasiado individualista para o bem dos dragões

Djalm foi a afirmação: primeira parte sensacional

Maicon foi a confirmação: secou Danny


Um onze que nos dá todas as garantias para o futuro.
Cima: Helton, Fernando, Rolando, Maicon, Otamendi, Hulk;
Baixo: Moutinho, Djalma, Defour, Álvaro Pereira, James.

Faltou um matador (Falcao)...

Danny foi o lado negativo do lado russo:
mostrou não ter qualquer respeito ou educação



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